Opinião

Amizade: estudo científico de 85 anos

Neste 2023 vimos a publicação de The Good Life, livro de R. Waldinger e M. Schulz, pela Simon & Schuster, Nova Iorque, 340 páginas. Com o elucidativo subtítulo Lições do mais longo estudo científico do mundo sobre a felicidade, ele nasceu como Estudo Harvard de Desenvolvimento Adulto (EHDA), em 1938. Pesquisadores vêm acompanhando há 85 anos as vidas de um grupo de pessoas das mesmas famílias, nos EUA. Inicialmente com 724 participantes, hoje com mais de 1.300, ao longo de três gerações, esses grupos sob observação científica prolongada recebe o nome de estudos de coorte. Pelotas é referência nesse tipo de investigação. E a Epidemiologia da UFPel é destaque internacional ao investigar as coortes - todas as crianças nascidas vivas em Pelotas -, em 1982, portanto há mais de 40 anos. Tais estudos são significativos porque permitem acompanhar as vidas e as vicissitudes das pessoas estudadas, criando um enorme volume de dados, utilizados como fonte para variadas investigações médicas, psicológicas, sociológicas, espirituais, econômicas, genéticas.
O Estudo Harvard não apenas avalia o grau de bem-estar dos participantes, mas recolhe também dados de suas amostras sanguíneas, de avaliações corporais, bem como de estudos de imagens cerebrais ou da análise de vídeo-tapes com gravações dos investigados sobre suas preocupações vitais. Além disso, ao se prolongar por décadas, foram surgindo, por exemplo, novas tecnologias de contato interpessoal, elementos que ainda estão sob investigação e que, no correr do tempo, trarão novos aspectos dos efeitos do uso mais ou menos extenso desses recursos.
O que vai se delineando ao longo do tempo é que ‘o amor e a consideração recíprocos, a sensação de pertencimento e o sentido positivo dos relacionamentos em geral se associam com melhor estado de saúde’ (pág.137). Os autores do livro em questão não utilizam explicitamente a palavra amizade, mas creio que o termo sintetiza a gama de expressões relacionais por eles utilizadas e que estão vinculadas com melhor estado de saúde. É importante ressaltar que as famílias acompanhadas passaram pela Grande Depressão, por guerras mundiais e pela pandemia de Covid-19, ainda vigente nas consequências clínicas. Nestas variadas e catastróficas circunstâncias, o que se mostrou como condição ímpar para o enfrentamento das adversidades foi o estado afetivo da amizade.
No capítulo 8, Família Importa, fazem a abertura com a citação de Jane Howard: ‘chame de um clã, chame de uma rede, chame de uma tribo, chame de uma família: seja como for, seja você quem for, necessitará de uma’. Aponta-se à necessidade de que encontremos recursos no ambiente, que podem estar distantes de uma família ordinária, por meio dos quais ele se configure como pessoa ao percorrer um caminho evolutivo baseado nas relações amorosas da amizade.
Nunca é tarde para ser
feliz, concluem. Amizade
mediante.

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